domingo, 19 de julho de 2009

Saudades


Saudade. Saudade da inocência, que tive ainda criança, antes de conhecer a essência perniciosa e contagiante do ser humano. Saudade dos meus amores sinceros. Saudade de amar. Saudade de sonhar e acreditar que no fim tudo pode dar certo, que o bem sempre vencerá o mal ou que o amor é base de tudo. Saudade da simplicidade de viver sem a preocupação idiota de ser o que é determinado pela sociedade que, como um abutre, devora-me sem piedade, destrói meus sonhos, minhas expectativas, meu ser, minha alma. Saudade de viver por viver. Saudade de sentir meu coração acelerar seus batimentos, do suor de minhas mãos e de minha voz às vezes gaga sem saber ao certo o que dizer. Saudade de declarar meu amor sem ter vergonha do que vão pensar ou de quê vão me julgar. Saudade de acordar pela manhã com o impulso de um objetivo simples, do sol esquentando minha face, do canto dos pássaros em uma doce sinfonia, do ar puro que entrava em meus pulmões. Saudade de dizer ‘Eu te amo’, de dar um abraço, de beijar no rosto. Saudade de ter amigos verdadeiros, ser amigo por ser, por se identificar com o outro. Saudade de chorar, de derramar lágrimas sinceras por motivos sinceros vindos do coração. Saudade da chuva batendo no meu rosto e da lama sujando os meus pés e da absoluta alegria de poder viver tudo aquilo sem preocupar-se nem com hoje e muito menos com o amanhã. Saudade das repreensões, quando eu fazia algo errado, das minhas caras emburradas, das birras, das lágrimas que derramei, ainda sim sabendo que eu estava errado. Saudade do ar de família, do aconchego, da compreensão, do amor que eles destinavam a mim por simples vontade de amar. Saudade de sorrir de mim mesmo, do que fiz, pretendi, ou ainda deixei de fazer. Saudade da insegurança, do receio, do medo. Saudade de me arrepender, de aprender com meus erros e não porque a “ordem natural das coisas é esta”, de quebrar a cara por assim não saber de nada, mas ter curiosidade e vontade de aprender, descobrir coisas novas, descobrir o que não se pode descobrir. Saudade de procurar o segredo para ser feliz, sem saber que ela sempre esteve, aqui, dentro do meu coração. Saudade de ter medo, de gritar quando ele me assolava. Saudade de minhas velhas lembranças, de meus tempos de criança, das amizades e fraternidades que um dia eu plantei. Saudade de acreditar nas pessoas, de depositar minha confiança em quem amo. Saudade de brincar, me divertir. Saudade de viver. A única coisa de que não tenho saudade é de ter fé, pois esta sempre me acompanhou. Enfim, saudade de ter saudade.

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